Pedra Filosofal
Eles não sabem que o sonho
é uma constante da vida
tão concreta e definida
como outra coisa qualquer,
como esta pedra cinzenta
em que me sento e descanso,
como este ribeiro manso
em serenos sobressaltos,
como estes pinheiros altos
que em verde e oiro se agitam,
como estas aves que gritam
em bebedeiras de azul.
eles não sabem que o sonho
é vinho, é espuma, é fermento,
bichinho álacre e sedento,
de focinho pontiagudo,
que fossa através de tudo
num perpétuo movimento.
Eles não sabem que o sonho
é tela, é cor, é pincel,
base, fuste, capitel,
arco em ogiva, vitral,
pináculo de catedral,
contraponto, sinfonia,
máscara grega, magia,
que é retorta de alquimista,
mapa do mundo distante,
rosa-dos-ventos, Infante,
caravela quinhentista,
que é cabo da Boa Esperança,
ouro, canela, marfim,
florete de espadachim,
bastidor, passo de dança,
Colombina e Arlequim,
passarola voadora,
pára-raios, locomotiva,
barco de proa festiva,
alto-forno, geradora,
cisão do átomo, radar,
ultra-som, televisão,
desembarque em foguetão
na superfície lunar.
Eles não sabem, nem sonham,
que o sonho comanda a vida,
que sempre que um homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos de uma criança.
In Movimento Perpétuo, 1956
Muitas. As que doeram a alma, que adormeceram os lábios e fizeram os ouvidos terem ruídos estranhos. Sussurros, o choro que não entendia e sequer decifrava porque não era quem sou hoje. E mesmo assim, segui em frente desejando sorrir com a arcada segurando os meus dentes quebrados do ranger nas noites de sofrimentos.
Queria ser a mulher das estrelas. O romantismo em alta e as espumas das ondas batendo em meus pés. Tentei soletrar os códigos morais, as falácias das tias que puseram apelidos difíceis de suportar – Era a moderna que me daria mal na vida. A perdida porque resolvi virar a mesa e olhar por baixo dos panos que cobriam faces descritas como as mais sábias que existiam.
Sofri. Deitei com alguns fantasmas que me fizeram chorar de medo. Outros que me acariciaram e fizeram felizes minhas sobras por alguns instantes.
Eu queria continuar lendo as páginas da vida e escrever o enredo do futuro próximo ou distante, mas excêntrico e capaz de desenvolver o pudor necessário para ser impura ou do jeito sóbrio que me levaria a orgias que me trouxessem alegria. As que achasse por bem escolher. Totalmente. Livre.
Eu queria continuar lendo as páginas da vida e escrever o enredo do futuro próximo ou distante, mas excêntrico e capaz de desenvolver o pudor necessário para ser impura ou do jeito sóbrio que me levaria a orgias que me trouxessem alegria. As que achasse por bem escolher. Totalmente. Livre.
As coisas que aprendi são muitas. Que não posso julgar o comportamento do outro porque daqui a alguns minutos posso estar fazendo pior. Que o amor não tem regras e ninguém consegue controlar a emoção verdadeira. Que por mais que se ofenda alguém, se este alguém lhe amar não desistirá de você, mesmo sendo o motivo turvo ou com entrelinhas complexas.
Aprendi também que os pais não são nossos heróis, mas quando ficarmos velhos vamos sentir o peso da responsabilidade de pedir perdão aos cabelos grisalhos que tanto nos disseram “não”. Talvez soubessem muitas coisas e se calaram, até que nos arrependeríamos de não procurarmos sua companhia, ternura. Mas deixaram que vivêssemos nossas vidas, realizássemos coisas e perdêssemos muitas, é o preço de quem não quer escutar.
As coisas que aprendi me fizeram ver que a amizade tem o preço alto. A quantia necessária da paciência, da dosagem do que é digno para oferecer mais do que recebe. Se não for o que espera, tente entender e seja sábia em doar. Mais tarde terá o quinhão em poder sentir a essência da vida mais delicada e lhe trazendo benefícios indescritíveis.
Sobre o sexo aprendi que é o bônus da relação. O que duas pessoas trocam como únicas. Do compromisso de ser inteiro, inteira, e, dar prazer a quem lhe oferecer coisas do outro mundo. Isso mesmo, o beneficio da gostosura dos segredos de uma grande paixão entre um homem e uma mulher.
Sobre os medos já tive muitos, alguns limitadores e outros que me fizeram enxergar que sou especial. Construí a espada enorme para lutar contra eles, confesso que nem aguentava o peso e perdi algumas batalhas. Simplifiquei. Hoje tenho o punhal de ouro com a inscrição: Felina mulher. É pequeno, afiado e certeiro, os medos já não mais tomam conta de mim. Tornei-os fatos.
Sobre as coisas que aprendi poderia ficar descrevendo por toda a minha vida, mas tenho que sair por aí sobrevoando em meu tapete mágico como uma “gênia” que se desfez do mandante e agora pertence ao mundo. Este cercado de eclipses e eventos que possam me motivar.
Hoje me sinto mais do que nunca. Troco moeda do amor e peço desculpas pelo que não fui capaz, mas quanto ao que realizei sou grata a mim mesma. As pontas dos meus dedos internos modelaram meu mundo pessoal, agradeço a habilidade tão bela. Afinal, estou aqui, inteira e me achando a mulher fascinante.
Um Amém seria pouco para agradecer as palavras que como uma oração me corrói por dentro e revela que estou em festa. Não escondo mais o sorriso e por onde ele estiver comigo, é o passaporte para que a entrada seja franca para o posto alto de onde despenco sem temor para a felicidade. Dito e feito - Venci.